Textos de Alunos


AS FRASES MAIS SEM NOÇÃO DO MUNDO!*


Raimundo Nonato Filho**

            Os filósofos dos tempos mais remotos, antes de existirem meios de comunicação como a internet ou a TV, sempre procuravam uma forma de ficarem famosos, e uma das mais eficazes era falar frases pensadas, que não têm sentido algum, mas que o pessoal começa a repetir e vira “bordão popular”. Esses filósofos nunca caem no esquecimento. Às vezes não são só filósofos. Roubando a ideia daqueles sábios amantes da natureza, vieram os inventores, imperadores e centenas de outras pessoas que marcam um feito heroico ou uma conquista com uma frase: muitas das vezes, ela sai involuntariamente; e outras vezes, aquelas palavras foram estudadas, analisadas e decoradas – alguns até escrevem na mão ou em um pedaçinho de papel para não esquecer.
            Uma frase que ficou famosa no Brasil foi a de um cara cujo nome eu me recuso a falar para não promover sua imagem política e deixá-lo ainda mais famoso. Em um dia qualquer ele resolveu “falar besteira”, pegou seu cavalo, chamou um punhado de soldados, e saíram cavalgando às pressas. O nosso antigo imperador parou às margens do rio Ipiranga, ordenou que os soldados jogassem os laços fora e gritou: “Independência ou morte!”. Logo depois saíram, voltaram para suas casas...
E agora vem a pergunta que não quer calar: PRA QUÊ? O que leva uma pessoa a fazer isso? Não houve confronto nenhum entre Brasil e Portugal, apenas o nosso país foi comprado.
            Existe ainda outro tipo de frase: a frase filosófica. Nesta, o estudioso está em um momento de loucura e diz uma coisa sem sentido que um empregado ou um fã anota e sai dizendo. Pronto! Ninguém sabe o que é ou o que significa, mas todo mundo escreve.
            Uma frase assim foi dita por um escritor cujo nome não vou revelar; a frase foi a seguinte: “Ser ou não ser, eis a questão”.
Agora vem a perguntinha pertinente que não cala: PRA QUÊ? Eu não tenho a mínima dúvida de que o senhor que falou essa sequência de palavras e letras estava com sua saúde mental totalmente abalada; ou, se já existisse a internet, ele estaria criando uma senha para se cadastrar em um desses sites de relacionamento: S-E-R-O-U-N-...
            Existe também aquela frase de conquista; frase esta que todo mundo pensa: “Puxa, eu sempre quis dizer isso”. Este é o tipo de frase que precisa de um público grande, ela tem um certo sentido e seu criador passa dias estudando a melhor sequência de palavras para aquela hora.
Frase assim foi dita quando um homem norte-americano colocou o seu pezão na lua: “Esse é apenas um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”.
Ficamos pasmos para rever a revoltante pergunta que ecoa em nossas mentes neste momento: PRA QUÊ? O que leva um ser humano a dizer isto, a não ser a busca pela fama. Naquele ano isso virou “febre”, todo mundo falava: se uma pessoa fosse descer do carro, falava a frase; ao entrar no ambiente de trabalho também; ao comprar uma camisinha na farmácia, falava a tal frase; usando a camisinha... o pessoal também repetia, só que mais feliz (eu acho).
            O fato é que se fosse uma frase espontânea, como “Ai que susto, eu ia caindo”, talvez não ficasse tão famosa. Mas, se o americano tivesse caído, o you tube estaria cheio desse vídeo. Sem falar que se trocarem algumas letras isso poderia virar logotipo para comerciais de sandálias tipo salto alto para homens, veja: “Este é apenas UM PEQUENO SALTO PARA O HOMEM, mas...”


* Crônica produzida como colaboração para o blog.
** Aluno da Licenciatura em Química do IFRN – Campus Pau dos Ferros; dono do blog www.circulodf.blogspot.com, onde posta crônicas de humor e outros textos.




ONDE ENCONTRAMOS AS LIGAÇÕES QUÍMICAS?*

Francisco Diassis de Freitas**
Francisco Fábio Monte**

Pense na seguinte situação: sua namorada todos os meses vai ao salão de beleza para clarear os pelos das pernas e dos braços para ficar mais atraente para você. Para que os pelos fiquem claros, ela utiliza um produto bastante conhecido por todos nós: a água oxigenada. Mas o que seria a água oxigenada? Como ela é formada?
A água oxigenada conhecida por todos nós é formada pela ligação entre dois átomos de oxigênio e dois átomos de hidrogênio; sua forma molecular é H2O2, muito semelhante à forma de outro composto bastante conhecido: a água, cuja forma molecular é H2O. A aplicação mais conhecida da água oxigenada é exatamente o clareamento de cabelos, mas “na indústria é usada para clareamento de tecidos em concentrações mais elevadas, pasta de papel e ainda como combustível para ajuste e correção nas trajetórias e órbitas de satélites artificiais no espaço. Na medicina é usada como desinfetante ou agente esterilizante” (Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre). Ela descolore os pelos porque, em contato com matéria orgânica, ocorre uma “quebra” nas ligações químicas da sua molécula (H2O2); os hidrogênios se unem e o oxigênio, que reage com facilidade, vai destruindo tudo que esta em seu caminho, inclusive a cor dos pelos, pois ele corta uma parte do DNA que se encontra no pelo, deixando-o claro.
Assim como o exemplo que citamos acima, existem muitas substâncias comuns a todos nós que estão presentes na nossa rotina. Essas substâncias se formam através das ligações químicas, que são processos em que os átomos que estão livres na natureza precisam ligar-se a outros átomos para alcançarem a estabilidade. O átomo que está instável só se estabiliza quando comporta na sua última camada oito elétrons ou dois (no caso do hidrogênio e do hélio). Nas ligações químicas, ocorrem trocas ou o compartilhamento de elétrons; isso ocorre na última camada, a camada de valência. Essa camada recebe tal denominação porque a valência de um átomo é medida pela sua capacidade de doar, receber ou compartilhar elétrons nessas combinações químicas, ou seja, quanto mais o elétron realiza trocas ou compartilha elétrons, mais eletrovalente ele é.
As ligações químicas podem ser covalentes ou iônicas. Nas ligações covalentes, ocorre um compartilhamento de elétrons, ambos os átomos cedem elétrons para se estabilizarem; nas ligações iônicas, ocorre o contrário, o átomo mais eletropositivo (que é aquele que tem maior facilidade em doar) doa elétrons para o mais eletronegativo (aquele que tem maior facilidade em receber).
Existem inúmeras substâncias que utilizamos no nosso dia a dia que são resultados de ligações químicas: na água, no sal, no ar que respiramos, até mesmo numa simples bolha de sabão há ligações muito complexas. Dessa maneira, se você passar a observar mais atentamente e tentar enxergar de maneira diferente situações comuns a todos e que geralmente passam despercebidas, verá o quanto a química e todos os assuntos relacionados a ela são interessantes, e o mais importante, como a química está aí para facilitar cada vez mais a nossa vida.

* Texto de divulgação científica produzido como requisito avaliativo da disciplina Língua Portuguesa.
** Aluno da Licenciatura em Química do IFRN – Campus Pau dos Ferros.
 


Jorge Leandro Aquino de Queiroz**

             José Bezerra Gomes desenvolve o romance “Os Brutos” sob a ótica do protagonista, o garoto Sigismundo. O narrador-personagem inicia sua obra situando o leitor no cenário principal da história: a cidade de Currais Novos, no Rio Grande do Norte. Logo após, descreve a chegada de seu Tota à cidade, acompanhado do chofer Jesus, que se envolvia com muitas mulheres. Depois, introduz na história um novo personagem: o seu tio, Lívio, que vivia com a prostituta Rica. Após essa introdução, Sigismundo mostra a sua residência: a casa dos tios Maria e Abdias e do primo Aldair, que era criado com muita rigidez, diferentemente do personagem protagonista. A narrativa deixa clara, a todo tempo, a insatisfação dos tios em relação à estadia de Sigismundo em sua casa. Em determinado momento, o narrador traz Lívio novamente para a história. Desta vez, o personagem vem para se instalar na casa dos tios de Sigismundo e tratar-se de doenças. A partir daí, é mostrada a relação de amizade entre tio e sobrinho, que acaba quando o garoto se assusta com a doença do tio. Lívio se desentende com Maria e sai da casa. Algum tempo depois, assassina Rica, suspeitando que ela o traía. É preso e enlouquece. O personagem Jesus volta à narrativa. Desta vez, o chofer, abandonado por suas namoradas, foge com uma mulher no carro de seu patrão. Uma nova fase do romance é iniciada quando Sigismundo é levado para o Alívio, sítio de seus pais e onde, por influência do trabalhador Cícero Cacheado, tem sua primeira experiência sexual. Algum tempo se passa, e Sigismundo encaminha o final de sua história mostrando a decadência da sua família, que com a seca é obrigada a vender todas as suas propriedades. O enredo finaliza relatando a retirada da família para Natal e, posteriormente, para São Paulo.

* Resumo produzido como requisito avaliativo da disciplina Língua Portuguesa. A proposta de produção reuisitava elaboração de resumo referente à obra literária Os brutos, do autor potiguar José Bezerra Gomes.

**Aluno do 1° período da Licenciatura em Química do IFRN – Campus Pau dos Ferros.


A ÉTICA DOS OUTROS E A NOSSA ÉTICA*


Jorge Leandro Aquino de Queiroz**

As constantes denúncias de corrupção que afetam a nossa sociedade, especialmente nas áreas da política e do direito, nos levam geralmente à reação imediata de questionar a eticidade dos indivíduos envolvidos.
Indignamo-nos, então, e, embora duvide da veracidade desta indignação, não vou aqui questioná-la. O que me interessa perguntar é: Por que nos ofendemos tanto com a falta de decoro dos políticos e magistrados e damos tão pouca atenção a atos que praticamos cotidianamente?
Poderíamos, então, nos justificar dizendo que essas pessoas deveriam servir de exemplo; mas aqui cabe a pergunta: Por que não podemos nortear nossa conduta com base em nós mesmos?
A atitude ética exige, afinal, um comportamento autônomo. Devemos observar e questionar, inicialmente, os nossos próprios atos e, a partir desta reflexão, agir na sociedade. Essa atividade reflexiva, entretanto, não é fácil de ser realizada.
Não questionamos nossas ações cotidianas, muitas vezes, por julgá-las desimportantes para a ética social. Não consideramos, na maioria das vezes, que desrespeitar a ordem das filas ou ignorar problemas que ocorrem ao nosso lado também são atos de corrupção (em escala menor, mas são). Isto ocorre, em grande parte, porque procuramos nos excluir dos problemas e manter-nos “íntegros” perante nós mesmos, escondendo nossas responsabilidades atrás de críticas e demonstrações de indignação.
Acredito, pois, que devemos questionar os problemas éticos da sociedade de uma forma mais ampla, incluindo-nos neles e não vendo tudo como um “auditor”; devemos, dessa forma, buscar nossas responsabilidades e possibilidades de ação.


* Artigo de opinião produzido como requisito avaliativo da disciplina Língua Portuguesa.
** Aluno da Licenciatura em Química do IFRN – Campus Pau dos Ferros.


O MEU EU*

Rêrisson Kennedy**

Eu posso
Eu sou capaz
Tenho qualidades
Tenho virtudes
Mas também tenho
Defeitos e limitações
Não sou sábio
Também não sou irracional
Às vezes erro
Não ignore, isso é normal
Quem nunca errou
Procuro superar
Isso me inspira
Aprendo um pouco mais
É errando que se aprende
Não sou egoísta
Prefiro errar
A não tentar
Prefiro ouvir
Pra depois falar
Não sou pessimista
Meu ego é imenso
Sou teimoso, não desisto
Não tenho medo de fracassar
Vivo infinitamente
Os dias que me foram concebidos
Em busca de algo que desconheço
Pois tudo na vida tem seu preço
Eu estou disposto a pagar
Não posso prever meu futuro
Às vezes me recordo do passado
Mas sou consciente que posso mudar
Apenas o presente
Assim posso buscar melhorar
Sei que não vou agradar a todos
Mas não vou mudar meu jeito de ser
Nem meu modo de me expressar
Procuro ser transparente
E se às vezes sou inocente
É porque discretamente
Deixei algo a desejar
É preciso fazer elogios
Também é preciso criticar
Não gosto de ser oprimido
Também não quero ser tão popular
Na verdade
Eu sou quem posso ser
Se você quiser me conhecer
Basta apenas
Se autoavaliar


* Poema produzido como colaboração para o blog.
** Aluno da Licenciatura em Química do IFRN – Campus Pau dos Ferros


O CAUSO DO FORMAL*

Bruno Fernandes de Souza**

Seu Romão Bernardo, mais conhecido como Romão da Bodega, era o sujeitim mais ignorante lá da Maracutaia. Nomes como urutu cruzeiro, nojento, metido a besta duma figa, fio duma égua e outros mais que eu não posso dizer, pois o locá não permite, era os apelido mais fraquim que o pessoar botava nele, num sabe. Como ele era metido a sabido, ficava reprovando todas as coisa que nóis matuto costumava falá. Inté mermo co’as torre que nóis dizia que tava no céu quando o tempo tava bonito pra chover, o diacho do seu Romão encasquetou, agrumentando que o nome certo era um tar de “cúmulo nimbo”. Quando ele disse isso eu só via era os caboclos lá da Maracutaia mangando dele, dizendo que esse tar de cumulo nimbo num existia. Pois bem, o finado Seu Romão, por ser possuidor de mercearia, tinha muito das condição de viver bem e no luxo. Tinha duas tangida de jumento, três rapariga reservada no cabaré de Dona Mia (Zarolha, Zoiuda e Zabé), cinco pote d’água, duzentas cabeça de gado e ainda uns capotinho no terreiro, além de um baixio de cabaça prantado adespois de um carrasco bem grande, num sabe.
Mas cuma riqueza num quer dizer nada, o dia de Seu Romão chegou. No dia em que esse home morreu fartou gente inté mermo pra levar ele pro cemitério. A viúva e a filha do involado dissero que era pru causa da chuva que deu no dia, mas eu tenho pra mim que quando o caba é caba da peste mermo, num tem chuva nem sór que atrapalhe de levá ele pro descanso eterno, amém.
Mas o que ninguém desconfiava era que uma das meretriz que era amancebada mais seu Romão, a Zarolha, tinha embuchado do infeliz e já tava mojada tinha sete mêis e trinta dia (procê que num entende muito das ciença, fartava um mêis pra dita cuja dar a luz ao menino). Sem testamento nem nada que garantisse a distribuição dos bens de seu Romão somente pra sua esposa Dona Mundinha e pra sua fia Carolinda (que por sinar era uma fulô de formosura), era preciso o avar de arguém da justiça que desse o parecer a um dos lados envolvidos. Indagado da existência de uma comarca, o prefeito Nelsinho só soube dizer que esse negoço de marca d’água era com o ministério da fazenda. Partiro então em busca da autoridade mais competente da Maracutaia e, cuma num havia delegado, mim procuraram a mim, tabelião Ary do Cartório.
Naquele tempo, os dono do cartório fazia o que queria nas cidade: casava, aumentava a idade, dividia os bens através de formal, dentre outras cousas. No dia em que essas duas mulhé chegaram lá no prédio do cartório 00 da Maracutaia, ninguém fazia a deferência de qual era a mais ambiciosa e presunçosa em suas palavra. Decidi então agir de bom gosto e fiz o que achei melhor.
No dia marcado pra divulgação do formal, eu já não estava mais lá na Maracutaia, nem a filha de seu Romão e nem o nenenzinho de Zarolha. Fico pensando na cara que as duas fizero ao entrar lá e vê o Cego Jeremias, com sua viola e como de costume, versou uns negoço lá:       

O cartorista Arimatéia
Nas suas atribuição
Vem aqui fazer o formal
Dos bens de seu Romão
As senhora aqui presente
Se vaila do coração.

Ao morrer, seu Romão,
Deixou dói fio, duas muié
Como dá pra perceber
Esse caba num tinha fé
Na religião do casamento
Assim cuma ela é.

Agora suas muié
Vão fazer um movimento
Pra fazer a partilha
Pois não tem entendimento
De como se faz justiça
As duas são uma mundiça
E não tem comportamento.

Seu Ary que não é jumento
Achou melhor fazer
Deixou todo pros fios
E veja só você
Com a filha se casou
O nenenzim adotou
Pra assim riqueza ter.

Adeus dona Zarolha
Adeus dona Mundinha
As duas vão voltar
A ter suas vidinha
Uma é no cabaré
E a outra se tiver fé
Talvez vire uma freirinha.


* Conto produzido como requisito avaliativo da disciplina Língua Portuguesa I.
** Aluno do 1° Ano do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Informática na modalidade regular, do IFRN – Campus Pau dos Ferros.



O MATUTÊS*

Bruno Fernandes de Souza**

Faltava menos de dez minutos pra terminar a última aula lá na Escola Municipal “Gentil da Catingueira”, da cidade da Maracutaia, quando D. Vilhelmina passou o trabalho. Dona Vilhelmina era aquele tipo de professora frustrada com a profissão, mas mesmo assim se esforçava pra dar o seu melhor. Em resumo, era melhor do que não ter professora nenhuma.
Ela disse: “O trabalho é sobre as diferentes formas de linguagem no interior. Pesquisem e tragam próxima aula.” Não sei ao certo por que, mas algo naquele tema me intrigou e decidi realizar uma pesquisa bem profunda na própria Maracutaia. Ao chegar em casa fiz meu plano, meu roteiro de pesquisa e comecei no outro dia. Era sábado, fui ao Posto de Saúde e lá encontrei Seu Doquinha e sua mãe Marcionila. Cheguei perto e perguntei: “Veio se consultar, Seu Doquinha?”. “Não, vim só acompanhar mamãe”, respondeu. E eu completei: “E a veinha tá doente de quê?”. “Rapaz, mamãe tá com uma privacidade medonha.” Estranhei a doença e pedi que me relatasse o diagnóstico do estado de sua mãe.
“Ômi”, começou ele, “diz que tá com três dias que se espreme e num sai nem vento, ocê acredita numa privacidade dessas?”. Entendi que na verdade Doquinha se referia a prisão de ventre, mas nada reclamei. Terminei a conversa e saí de lá achando que tinha encontrado o foco do meu trabalho.
No dia seguinte tinha missa e me dirigi à casa de Deus com o objetivo de encontrar mais conteúdo para o trabalho. Na dita missa, o Vigário Mariano pregava para o seu rebanho com o seguinte refrão: “Meus irmãos e minhas irmãs, se eu tenho fé e vós também tendes fé, vamos juntar nossas fezes e seguir rumo à casa do Pai!”
Tocado no fundo por aqueles pensamentos, segui na segunda-feira para o açougue comprar a carne. Seu Nonato conversava com o fazendeiro Dedé sobre um animal que havia matado: “Seu Dedé, e a rês? Como é que foi a matança lá?”. “Rapaz, o trabalho maior foi com o resto do bicho. Tu acredita que tiramo mais de cincos quilos de fatos?”
Na véspera da entrega do trabalho, sentia que ainda faltava alguma coisa. Então aproveitei o tempo da política e fui assistir a um comício lá no Riacho dos Gritos. O candidato Zé Rato se vangloriava de sua resistência física e clamava: “Eu tô aqui no Riacho dos Gritos desde manhã só com um ovo!”. Seu Bernardinho do Jogo do Bicho relembrava fatos bastante pessoais do sofrimento de sua infância: “Eu me criei aqui na Maracutaia desde pequeno, dormindo em cama de pau duro!”. Pedro Golinha terminava atiçando os adversários: Vocês pensa que bota papa na minha língua? Vocês bota é merda!”
Tinha chegado ao auge do meu entendimento sobre o que Vilhelmina pedia no trabalho, mesmo inconsciente. No outro dia, apesar de um tanto ressacado, apresentei-me à turma e versei meu trabalho assim:


No falar do matuto
Outro dia é astrurdia
Alvoroçado é se por acaso
Sentir grande alegria
Caiga é o peso que o jumento
Leva no seu dia a dia.

Um colar se chama volta
A cabeça tem moleira
O frango é o galeto
Disenteria é caganeira
Corrida já é carreira.

Até privacidade de ventre
Já teve a sua vez
São palavras engraçadas
Dentro do português
Formando outro idioma
Quem sabe o matutês.



* Conto produzido como colaboração para o blog.
** Escritor e aluno do 1° Ano do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Informática na modalidade regular, do IFRN – Campus Pau dos Ferros.


CAIXA POSTAL: SOCORRO, CHAD!*

Kevin Harrison**

Capítulo I – Flashes de um lugar quase esquisito

Era tão estranho aquele lugar! Nunca tive um flash desses na minha mente. Ao mesmo tempo, parecia uma loja, cheia de computadores. Não era um escritório, era uma loja. Só que estava mais para um presídio, estava, também, para um filme de terror. Mas não havia monstros, e sim pessoas normais. Bem vestidas e normais. Mesmo assim, tudo era estranho!
Fiquei intrigado, porque, nesse flash, vi alguns amigos com os quais não falava desde o inicio das férias. Eles todos haviam combinado de irem passar essas férias num chalé de uma fazenda dos avôs de um amigo. Eu não fui. Minha mãe não deixou, como sempre. Ela é bastante protetora e tem medo que alguma coisa de ruim aconteça comigo.
Ela quase não me deixa sair com meus amigos. Ela acha, sempre, que algo péssimo irá acontecer. Diz que tem uns pressentimentos. Coisa de mulher? Talvez! Nunca aconteceu, até hoje, algo de ruim com meus amigos nos momentos em que eu não estava com eles, por proibição da minha mãe, devido à mentalidade premonitiva dela. Mesmo assim, confio nela e penso que, se esses sonhos, esses flashes que tenho às vezes fossem vidências, poderia saber se estaria em perigo ou não antes da minha mãe e, assim, não precisaria preocupá-la, pedindo-a para sair com meus amigos. Tomaria minhas próprias decisões... Se é que vocês estão me entendendo…!
Mas, agora, voltando ao assunto daquela imagem misteriosa que veio à minha cabeça – e esquecendo as loucuras da minha mãe – me conformei em ficar em casa durante as férias, só assistindo TV e comendo as lasanhas que minha tia faz. Eu sei que isso não é nada saudável, mas fazer o quê?!
Metade das minhas férias já se passou. Quinze dias de chatice até agora. Assim, fui o único dos meus colegas que ficou em casa durante as férias.
Fiquei preocupado com meus amigos. Quinze dias sem falar com nenhum deles?! Que estranho! Liguei para a Nicole, uma das amigas minhas que haviam ido de férias para o chalé. Infelizmente, não consegui contato. O telefone dela estava fora da área de cobertura. Mas não achem que desisti de cara. Continuei tentando ligar para outros amigos que também haviam ido nessa viagem. Nada adiantou, pois no lugar onde todos estavam não havia sinal algum de celular.
Tentei relaxar um pouco, mas algo me deixava preocupado. Fui, então, à casa do meu primo – o Rey. De alguma forma, era capaz que ele me ajudasse, pois alguém como ele, que conhece vários lugares, pode muito bem saber, se eu descrever, qual é aquele lugar misterioso que mentalizei.
Ao chegar à casa do meu primo, gritei por ele na porta, mas ninguém ouviu. Então, percorri o beco ao redor da casa e fui até o quintal. Ao chegar lá, encontrei, também, a porta dos fundos fechada. Não hesitei em bater a porta ou chamar meu primo novamente, pois ver a casa dele toda fechada significava que não havia ninguém em casa.
Dei meia volta e fui até o fim do terreno que compreendia o quintal da casa do Rey. Exausto, sentei-me num caixote para ver o pôr do sol. Aquele quintal tinha uma grande elevação, ficava num morro. Então, de lá, era possível ver o pôr do sol de um belo ângulo, além de ser possível ver várias casas de outros morros.
Nunca mais havia me sentado ali para apreciar uma vista tão bela desde que eu era criança. Naquela época, eu e meu primo sentávamos neste lugar para conversar besteiras.
Comecei a reparar numas casas da rua da frente à casa do Rey. Percebei que numa dessas casas havia alguns vitrais roxos e paredes com detalhes rústicos e neogóticos. Recordo-me que, antigamente, meu primo me contava que aquela era a casa de uma bruxa. Como eu tinha medo, nunca passei por perto daquele lugar, mas, agora, depois de muito tempo e com a mentalidade já evoluída, pensei: Será que lá naquela casa morava realmente alguma bruxa? E se existiu tal bruxa, será que ela ainda vive ali? Eu poderia ir até aquela casa e procurar essa bruxa, pois ela poderia me ajudar... Bruxas também são videntes, conseguem ver os mundos invisíveis!
Assim, corri até a casa da bruxa para ver se conseguia alguma resposta. Ao chegar lá, vi a porta só encostada. Não estava trancada, mesmo assim, não entrei, pois aprendi que não se entra na casa dos outros sem permissão! Chamei por alguém que estivesse dentro da casa. Cansei de chamar. Chamei, chamei e chamei. E mesmo assim, ninguém respondeu. De repente, uma vizinha da casa da suposta bruxa apareceu atrás de mim, perguntando o que eu desejava. Eu fiquei sem saber o que responder. Não podia dizer que estava atrás de uma bruxa. Aquela mulher ia achar que era louco.
Então, eu disse para a mulher que estava procurando a minha tia avó. Ela acreditou, ou pelo menos, acho que acreditou... E disse que a única senhora que morava na casa da bruxa agora não mora mais. Eu perguntei à mulher se a senhora havia morrido. A mulher respondeu que não, que a Senhora Bellona – era esse o nome da senhora que morava na casa e que, até o momento, eu ainda não fazia a menor ideia se essa era a bruxa que eu procurava – está vivendo, atualmente, num asilo para idosos.
Antes que eu pudesse dizer algo, a vizinha da Senhora Bellona disse que tinha a chave da casa dela e que, se eu quisesse entrar na casa, ela poderia ir pegar as chaves. Vi que esta era a chance de dar uma vasculhada pela casa da Senhora Bellona, para ver se encontrava algo relacionado às bruxas... Mas achei correto dizer à mulher que a porta da casa já estava aberta, pois poderia ser que algum ladrão houvesse arrombado a porta para roubar algo da gótica residência. Então disse, mas me surpreendi quando a vizinha da Bellona falou que eu estava equivocado e que para entrar na casa da Senhora Bellona era preciso passar por duas portas, e que a primeira era somente uma porta decorativa, sem fechadura. Nesse momento, a vizinha empurrou para dentro a porta da casa da Senhora Bellona, que se abriu. Só assim pude ver que havia, depois daquela porta, mais para dentro da casa, outra porta.
A gentil vizinha da casa da bruxa me deixou ali e foi pegar as chaves para abrir a outra porta. Quando chegou de volta, colocou a chave na fechadura da porta que ainda estava fechada e a abriu. Ela entrou e depois eu entrei. A mulher me perguntou o que eu era mesmo da Senhora Bellona. Eu tive que mentir novamente, dizendo que era sobrinho dela, que ela era minha tia avó. Sabia que se eu dissesse mais do que isso, ou se a mulher me perguntasse mais do que isso, tudo daria errado, pois eu não sabia nada sobre a Bellona. Mas como precisava ganhar a confiança da mulher, me arrisquei a exclamar que eu era o único da geração de netos da Bellona, que ela não tinha tido filhos nem netos, somente a (suposta) irmã dela havia tido uma (suposta) filha que deu à luz (supostamente) a mim.
A mulher acreditou na história que contei e completou dizendo que não sabia muito sobre a vida da Senhora Bellona, mas que foi confiada pela tal a guardar as chaves de sua casa, mesmo não a conhecendo totalmente. Curioso, perguntei à vizinha o porquê de a Senhora Bellona deixar as chaves com ela, se as duas não se conheciam direito.
A vizinha me disse que, um dia, a Senhora Bellona chegou para ela dizendo que iria deixar a casa, pois já estava velha demais para viver sozinha e que iria viver num asilo, onde poderiam cuidar dela caso ela ficasse doente, e onde não precisaria estar cozinhando ou limpando a casa da poeira. A mulher ainda disse que perguntou à Bellona se não havia algum parente com o qual ela não pudesse ir viver. Segundo a vizinha, Bellona respondeu que só havia parentes muito distantes e que preferia ir, realmente, viver em um asilo.
Fiquei intrigado com a história que a vizinha me contou. Ela me narrou, também, que a Senhora Bellona, após isso, lhe entregou as chaves e disse que era para ela ficar com estas últimas, pois quando algum parente viesse atrás dela, era para entregar as chaves da casa a este.
Perguntei à vizinha da Bellona se este fato havia ocorrido há muito tempo. A mulher respondeu que não fizera nem um ano completo que a Senhora Bellona foi viver no asilo.
Consegui compreender tudo que ouvi. Queria que a mulher continuasse comigo, me falando mais sobre a Senhora Bellona, só que ela disse que, como estava preparando o jantar em sua casa, não poderia me atender por mais tempo, e que ia me deixar ali, podendo eu ficar à vontade. A vizinha da Senhora Bellona já ia saindo, quando perguntei o seu nome. Ela respondeu-me que era Elizabeth. Agora, eu já sabia o nome daquela adorável mulher.
Dona Elizabeth foi para sua casa. Assim, continuei vasculhando, sozinho, toda a casa da Senhora Bellona, a fim de encontrar alguma prova de que ela era uma feiticeira, ou de que ali já residiu alguma bruxa.
Depois de revirar quase toda a casa da Senhora Bellona de cabeça para baixo, as únicas coisas que encontrei parecidas com objetos de bruxa foram uma cortina roxa com estampa de luas, estrelas e gatinhos, além de um casaco preto, bem longo (não acham que bruxas gostam dessas coisas?!). Pelo menos, agora já sabia que a casa da Senhora Bellona não tinha vitrais roxos, pois, na verdade, era essa cortina roxa, que colocada nos vitrais incolores da casa, somada aos feixes de luz que entravam pelas venezianas, que fazia todos terem, pelo lado de fora dessa casa misteriosa, a impressão dos vidros na janela serem de cor roxa.
Quando já estava desistindo de procurar algo que eu nem sabia mais o que era, encontrei encima de uma mesinha um papel dobrado. Peguei-o e o desdobrei. Ao ler, consegui retirar daquele pedaço de papel uma importante informação que a Dona Elizabeth não me deu: o endereço do asilo onde estava vivendo a Senhora Bellona.
Sem pensar duas vezes, peguei aquele pedaço de papel, coloquei-o no bolso do meu short e corri. Tranquei a casa da Senhora Bellona com as chaves fui até a casa da Dona Elizabeth. Chamei por ela, que logo veio até mim. Perguntei-a se poderia ficar com as chaves da casa da Bellona, e ela me respondeu que sim, que eu era da família dela, então poderia ficar. Concordei, portanto, com a confiada Elizabeth, agradecendo-a por tudo. Ela, além de confiada, também conformada, disse-me que ajudar, para ela, nunca exigia nada em troca. Então, dei-lhe um sorriso recíproco.
Naquele momento, eu queria muito ir logo ao asilo onde estava a Senhora Bellona, mas já estava anoitecendo, e andar sozinho pelas ruas à noite não é nada seguro, além de que o asilo ficava muito longe dali, em um bairro muito perigoso. Não podendo fazer mais nada naquele momento, fui para casa, ansioso para que a noite passasse rapidamente e o outro dia chegasse logo, para que eu fosse atrás de mais respostas.


* Conto produzido como requisito avaliativo da disciplina Língua Portuguesa I.
** Aluno do 1° Ano do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Informática na modalidade regular, do IFRN – Campus Pau dos Ferros.